DEVIR...

Jeannette Woitzik

Ela foi planejada em uma manhã de outono e nasceu estranhamente em um dia frio de inverno. Contam que quando ela nasceu não parou mais de chover, e nunca mais anoiteceu. Os dias eras tão longo que se tornaram infinitos. Assim que abriram as janelas ela também abriu os olhos e viu o mundo. Mesmo tão pequena, tão insignificante, ela desejou fazer parte daquele mundo iluminado. Ela não se importou com toda aquela chuva – na verdade ela achou bem bonito. Assim que foi cercada de cuidados ela percebeu a sua fragilidade. Ela não entendeu porque todos faziam tanto silêncio. Seria para ouvir o som da chuva? Na primeira vez que ela encontrou os olhos da mãe, descobriu porque chovia tanto. Na primeira vez que ela viu os olhos do pai ela descobriu o porque de tanto silêncio. E foi no silêncio da chuva que ela se sentiu profundamente amada. Mesmo tão pequena e inexperiente ela já sabia sonhar. Foi então que fechou os lindos olhos e desejou existir para sempre naquele momento. Seu corpo se tornou cansado e seus movimentos logo cessaram. Em tão pouco tampo ela aprendeu que o sonho era pequeno demais para ela. Algo maior a esperava. Com o passar das horas ela entendeu finalmente que os dias não eram eternos. Foi com o anoitecer que ela se deu conta de que havia vindo ao mundo para existir por apenas um único dia. Entre o princípio e o fim da sua breve existência ela conheceu apenas a chuva e fez renascer todas as primaveras do mundo.

Comentários

Muito bom. O realismo fantástico, sempre me encantou.
Abração
La Vanu disse…
Tenho lido bastante sobre vida-morte-vida. Veio na hora certa. É triste seu texto!
Bj
Anônimo disse…
Sem palavras e sentindo na pele só por imaginar como mãe...

Beijos meus
disse…
Adorei!
Otimo carnaval pra vc!
Débora Cecília disse…
e mais importante que o tempo das coisas é a eternidade que elas constroem, pois já diria o poeta "que seja eterno enquanto dure"...
Bruno disse…
Delicado ... simpless e dramatico ... um turbilhão de sentimentos, sentidos e pensamentos ... empoucas linhas nos faz pensar tantas coisas ... sentir tantas emoçoes ... BEIJO IMENSO ... saudades ... Logo Tamo ai ...
Bruno disse…
Tem que escrever algo novo ... saudades!!!
Emerson, querido!
Ótima estória (ou seria uma história?)...
Na verdade vc tem razão, não importa o tempo que se existe na terra, mas sim a intensidade em que se vive este período.
Pra "ela" foi um dia apenas, mas vivido de maneira inteira!


Beijokas mil.