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Jeannette Woitzik |
Quando ela nasceu lhe tiraram os olhos. Os seus primeiros sonhos foram apenas sonhos. Nunca chegaram a se realizar. Tudo ao seu redor era feito da mesma matéria do seu corpo – saudade e lembranças. O princípio da sua existência, o mais longo, havia se apagado suavemente com as suas primeiras memórias. O tempo não importava. Existir daquela forma lhe parecia tão bonito. Passava as horas tentando reviver, em vão, o que imaginava ter sido. E sem saber como, ela ganhou de presente os olhos, dois lindos olhos negros. Quando aprendeu a usá-los, já não havia mais tempo. E por um dia, apenas um dia, ela viu a luz do sol. Viu também uma linda flor nascer na primeira manhã da sua vida. Sob a luz intensa do alvorecer ela viveu e sentiu tudo o que nunca havia conhecido. Correu pelos campos de algodão, viu o mar e se encantou com lagartas e mariposas coloridas diante dos seus olhos. Já ao final da tarde chegou a conhecer o amor, tão intenso e fugaz! E com os olhos, veio a terrível limitação da consciência de que estava viva. Finalmente, ao anoitecer, sentiu o corpo cansado. Viu suas mãos pela primeira vez. Descobriu seus traços no espelho e não encontrou o seu coração. Tocou seus olhos e chorou. E ao surgir as primeiras estrelas ela se deu conta de que nem mesmo uma vida inteira era suficiente para ver todas as estrelas no céu. E finalmente, quando aprendeu a usar os seus lindos olhos, já era noite – uma noite muito escura - que a fez adormecer e sonhar com nunca ter tido olhos!
Comentários
Li seu blog, vc escreve muito bem.
Sua leitura prende o leitor e me fez mergulhar no seu universo.
Fico muito entristecida por não darem o devido valor a cultura em nossa cidade.
mas sonho no dia em que o teatro a musica as artes plasticas. então seremos felizes.
A cultura deveria ser Prioridade , para todos.
Sucessos.
ui credo, dá até vontade de te dar um monte de soquinhos!
beijo e uma pedra na bolsa
Bjo .