BOTÕES

Evelina Oliveira
Foi nas aulas de artes que eu aprendi a ser gente. Não gente "grande” como dizem os adultos. Pra falar a verdade, nunca quis ser “grande”. Sempre gostei das coisas pequenas, das coisas insignificantes. Os botões, por exemplo, sempre me fascinaram pelas suas cores e forma. O jeito que eles prendem uma parte da roupa a outra sempre me lembrou um abraço. Gosto também das joaninhas vermelhas. Elas não lembram botões? E os cadarços? Já reparou os cadarços do seu sapato? Eles não abraçam também? E o que dizer dos alfinetes? Esses são mais traiçoeiros, talvez por serem tímidos! Os botões pra mim são abraços, as joaninhas lembranças, e os cadarços? Mais abraços... E assim, nas minhas aulas de artes, descobri que eu tinha um olhar de artista, um jeito de artista... Toda gente deveria ser artista. Não artista que pinta, que dança, que canta... Digo “artista” desses que sonham e fazem sonhar, que nos ensinam a ser gente pequena. Não pequena do tamanho de formigas, digo “pequena” no sentido da criança que mora dentro da gente. Nas minhas aulas de artes eu não aprendi a desenhar em folhas brancas e tristes. Nas minhas aulas de artes eu aprendi a “significar”. Nunca desenhei bem, mas isso não era problema, pois eu sabia escrever. Sabia escrever de um jeito que ninguém entendia; só os artistas. Nos meus textos eu gostava de falar das coisas sem importância, das coisas que os outros sempre disseram não ter significado algum. Mas eu não me importava com o que os “outros” diziam, até mesmo porque eu sempre encontrava “alguém” que gostava do que eu escrevia. O meu professor de artes, por exemplo. Uma vez ele me confessou que para um desenhista eu até que era um grande escritor. E assim, nas aulas de desenho livre, ao invés de eu ficar paralisado diante de uma folha branca e triste, passei a colori-la com palavras de “insignificância”. Seria bom se todos fossem artistas! Não para que todos entendessem o que eu escrevo, mas para a felicidade das joaninhas vermelhas, dos botões coloridos, dos cadarços encardidos e até dos alfinetes. Era bonito ouvir nas minhas aulas de artes a matemática da obra artística: “muitas vezes o menos significa mais”, dizia meu professor-artista. E foi assim que passei a ser “gente”; gente daquelas pequenas (eu já expliquei que não é gente do tamanho de formiga). Hoje eu não ligo quando os outros dizem que não entendem o que eu escrevo. Hoje eu fico feliz porque sempre encontro alguém que também se comove com os botões, as joaninhas, os cadarços, os alfinetes... E é de coisas insignificantes, gente pequenina c olhar de artista que eu componho meus abraços, meus textos... Meus sonhos.

Comentários

Anônimo disse…
deixe seu comentário!
oie migo que texto lindoooooooo eu conheço bem essa cidades que vc falou aew!
hihihihhhi

bjux
te amo tah
du tamanhu di todas os grãozinhos de areinhas das dunas que cobriram a cidade.
Anônimo disse…
A cidadezinha do amor encantado!!!
Anônimo disse…
Morreram todos mesmo? Aí q triste!